Com a finalidade de facilitar o processo de aprendizagem e contribuir para a capacitação de profissionais, pesquisadores, estudantes de pós-graduação e gestores na área da saúde o Centro Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, Centro Especializado da Organização Pan Americana da Saúde/ Organização Mundial da Saúde (BIREME/OPAS/OMS) vem desenvolvendo e aperfeiçoando cursos de comunicação científica. A atividade foi inicialmente desenvolvida na modalidade presencial e planeja-se em 2017 a criação de cursos de autoaprendizagem e recursos educacionais abertos em temas de comunicação e redação científica.
Os cursos têm por finalidade estimular a publicação de resultados de pesquisa que visam atribuir autoria a ideias e descobertas, difundir o conhecimento e contribuir para o arcabouço do conhecimento científico universal, cumprir metas e avançar na carreira, reduzir as iniquidades, contribuir para o crescimento das nações e melhorar a qualidade de vida e saúde das populações, entre outros.
Desde 2014, a BIREME capacitou mais de 500 profissionais de instituições de ensino e pesquisa, órgãos de governo e organismos internacionais. Os cursos incluem módulos teóricos e práticos, exercícios e oficinas e abordam temas como história da comunicação científica; atores da cadeia editorial; modelos de negócios na publicação científica; acesso aberto e periódicos predatórios; avaliação por pares; repositórios de preprints e avaliação pós-publicação; autoria e coautoria; escolha de periódicos para publicar; dados abertos; ética na experimentação e na publicação, reprodutibilidade de resultados de pesquisa; conflitos de interesse; avaliação de periódicos e índices de impacto; métricas tradicionais e alternativas; a divulgação científica e o papel dos profissionais de saúde, entre outros.
A BIREME visa, desta forma, contribuir para aumentar a quantidade, qualidade, visibilidade e impacto dos artigos científicos publicados na Região, alinhado à sua missão de “contribuir para o desenvolvimento da saúde nos países da América Latina e Caribe por meio da democratização do acesso, publicação e uso de informação, conhecimento e evidência científica”.
Compreendendo a comunicação científica
As origens da comunicação científica remontam ao século XII, quando foram fundadas as primeiras universidades e debates históricos e filosóficos ocorriam entre pensadores e sábios. Foi apenas com a invenção da imprensa por Gutenberg, em 1439, que os tratados científicos passaram a ser disseminados em outros países. Data de 1665 o surgimento dos primeiros periódicos científicos – o Journal des Sçavants, na França e o Philosophical Transactions of the Royal Society of London, no Reino Unido. O primeiro teve sua publicação interrompida em 1792, durante a Revolução Francesa, porém o periódico inglês continua a ser publicado até hoje. Na América Latina surge em 1864 a Gaceta Médica de México, seguida da Revista Médica de Chile (1872), Gaceta Médica de Caracas (1893) e Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (1909).
Trezentos e cinquenta anos depois, os periódicos científicos constituem o principal veículo de disseminação de resultados de pesquisa. O índice Ullrich’s registra atualmente mais de 70 mil periódicos arbitrados ou avaliados pelos pares e novos periódicos surgem constantemente em todo o mundo. O relato de um experimento científico e as implicações que dele decorrem obedece a regras e metodologias particulares e bastante estritas. Trata-se, entretanto, de uma linguagem universal que ultrapassa fronteiras de países e áreas do conhecimento, se bem que com certas particularidades inerentes às disciplinas.
O conhecimento da ‘linguagem da ciência’ é, portanto, primordial para compreender um artigo e mais ainda para escrever. À ciência que rege a comunicação dos resultados de pesquisa, e que inclui a gestão dos artigos e periódicos e sua avaliação e validação dá-se o nome de Comunicação Científica. A disciplina transcende a mera escrita da ciência, e envolve a compreensão dos princípios que regem o funcionamento da academia, os mecanismos de avaliação e recompensa, aspectos éticos e econômicos e os veículos utilizados em sua disseminação. Sem o entendimento deste particular universo, é tarefa árdua nele ingressar e obter o almejado reconhecimento dos pares e da sociedade que advém da publicação de um artigo ou documento científico.
Como compreender a complexa disciplina Comunicação Científica? Evidentemente existe material de qualidade em abundância disponível em livros, nos próprios periódicos científicos e, é claro, em fontes online. A World Wide Web é rica em recursos em todos os idiomas e níveis de profundidade, destinados a várias audiências. Resta, portanto, identificar aquelas mais adequadas ao repertório individual e iniciar a leitura, que certamente levará a novas fontes e assim sucessivamente, podendo consumir muito tempo do leitor. Este método, provavelmente, trará bons resultados se forem feitas boas escolhas quanto à confiabilidade das fontes de informação, uma vez que a Web disponibiliza todo tipo de conteúdo e deve-se estar atento quanto à sua origem e credibilidade. Por outro lado, cursos destinados a distintas audiências, como aqueles desenvolvidos pela BIREME, constitui uma alternativa eficaz.