Entre os dias 19 e 22 de março de 2024, o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da Saúde (BIREME/OPAS/OMS) esteve em missão na Índia, onde participou de duas reuniões organizadas pela OMS, em Nova Delhi e Jamnagar, para o planejamento das atividades do novo Centro Global de Medicina Tradicional (GTMC/WHO) no biênio 2024-2025.
Os encontros reuniram especialistas e técnicos de mais de 40 países das seis regiões da OMS, incluindo pesquisadores, formuladores de políticas públicas, provedores de cuidados em saúde, representantes de organizações da sociedade civil e funcionários da OMS. Da OPAS, participaram João Paulo Souza, diretor da BIREME, Verônica Abdala, gerente de Produtos e Serviços de Informação da BIREME, e Jonas Gonseth-Garcia, assessor em Qualidade de Sistemas e Serviços de Saúde (HSS).
A agenda de trabalho cobriu as principais áreas de atuação do Centro Global de Medicina Tradicional da OMS, com destaque para o desenvolvimento do corpo de conhecimentos e evidências sobre medicinas tradicionais (onde se incluem as prioridades de pesquisa e a Biblioteca Global de Medicina Tradicional), a introdução de práticas tradicionais seguras, efetivas e culturalmente apropriadas nos sistemas nacionais de saúde, o registro e avaliação do uso dessas prática nos serviços de saúde (com destaque para o capítulo de medicina tradicional do CID-11), biodiversidade e propriedade intelectual, além da própria estratégia global da OMS para Medicina Tradicional.
Com relação à Biblioteca Global, Verônica Abdala compartilhou que as discussões “permearam dois dias de trabalho, com conferências gerais realizadas no período da manhã, grupos de trabalho à tarde, finalizando cada dia com discussões em plenária”. Sob coordenação da BIREME, três sessões de grupos focais foram conduzidas com os participantes para definir especificações de alto nível, como por exemplo, as necessidades dos potenciais usuários da plataforma global de informação. Verônica Abdala explicou que algumas opções de nomes foram apresentadas aos participantes, os quais foram colocados em discussão, tendo sido realizada a opção por “Biblioteca Global de Medicina Tradicional”. Com isso, “nós vamos construir e implementar uma plataforma para reunir, organizar e dar visibilidade ao conhecimento e às evidências relacionadas às práticas tradicionais de saúde que existem nas diversas regiões da OMS e seus países. A ideia é que essa biblioteca possa facilitar o acesso à informação e de alguma forma subsidiar a tomada a decisão em âmbito global sobre o tema”, afirmou.
Também presente na missão, o diretor da BIREME João Paulo Souza ressaltou a importância das bibliotecas nesse contexto, “pois existe um patrimônio de conhecimento tradicional em nossos países que está sendo perdido. O conhecimento tradicional se traduz em práticas apoiadas em recursos naturais originados na rica biodiversidade dos nossos diferentes biomas e ecossistemas. A perda desse conhecimento, além de limitar o potencial de desenvolvimento econômico e social de comunidades de populações originárias, rurais, ribeirinhas e florestais, significa um atraso no desenvolvimento científico e tecnológico de recursos terapêuticos. Basta lembrar que uma parte significativa, se não a maior parte dos medicamentos atualmente disponíveis, tem origem em recursos naturais, e o conhecimento tradicional ilumina o caminho para a identificação de novos recursos terapêuticos”.
Para o diretor, “é muito gratificante assistir a BIREME colocar sua expertise à serviço de um projeto de saúde global com interfaces em diversos setores, incluindo cultura e etnicidade, propriedade intelectual, ecologia, ciência e tecnologia e economia, entre outros”. João Paulo Souza considera que se o comissionamento desse projeto à BIREME significa um grande desafio, ele representa também seu reconhecimento como um centro de excelência no desenvolvimento de bibliotecas digitais. “A Biblioteca Virtual em Saúde em Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (BVS MTCI) foi apresentada na Cúpula Mundial da OMS sobre Medicina Tradicional realizada na Índia, em agosto de 2023, e influenciou esse novo projeto da OMS. As pessoas entendem que se trata de uma proposta que vem de uma história sendo construída há muito tempo, com uma rede e uma equipe de trabalho muito grande por trás”, destacou.
A bibliotecária Rose Pinto relembra com satisfação das atividades que deram início ao estabelecimento da BVS MTCI Américas. “É muito bom ver esse projeto acontecendo, lembrando que embora as práticas existam há muito tempo, não tem 10 anos que um movimento de articulação de saberes e praticantes de medicinas tradicionais nas Américas tenha se iniciado. E agora, ver toda essa construção e todo o potencial benefício que esse projeto tem, nos dá uma felicidade muito grande”, celebra Rose ao rememorar dos encontros realizados pela OPAS na Nicarágua, em dezembro de 2015 e em julho de 2017, quando foi apresentado o projeto original da BVS MTCI. “Acho que é um propósito da humanidade crescer nesse sentido da integração de diferentes conhecimentos, com uma metodologia efetiva para disponibilizar essa informação para mais pessoas”, conclui Rose.
O cronograma de desenvolvimento da Biblioteca Global prevê a disponibilização de uma versão preliminar para testes ainda em 2024, com o lançamento do novo produto de informação em 2025, em conexão com a 2ª Cúpula Mundial da OMS sobre Medicina Tradicional.
Mais detalhes sobre a missão na Índia e o novo projeto da Biblioteca Global de Medicina Tradicional da OMS, você encontra na entrevista com o diretor da BIREME, João Paulo Souza. Acesse: BVS MTCI Américas será modelo para o desenvolvimento da futura Biblioteca Global de Medicina Tradicional da Organização Mundial da Saúde.
Links de interesse:
Charting an evidence-based roadmap for WHO Global Traditional Medicine Centre collaborations (em inglês)