A ideia do atual Centro Latino Americano e do Caribe de Ciências da Informação em Saúde (BIREME), Centro Especializado da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) surge da necessidade de criação de uma Biblioteca Regional de Medicina para atender a grande demanda de pesquisadores e alunos de medicina da América Latina por cópias de artigos de revistas científicas que eram, até aquele momento, direcionadas para a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (U.S. National Library of Medicine). Daí se vincula a missão da BIREME de democratizar e facilitar o acesso à informação científica em saúde, que permanece atual ao longo dos seus 50 anos de existência.
A coleção de revistas científicas da então Escola Paulista de Medicina (EPM) foi o embrião da Biblioteca Regional de Medicina, sendo rapidamente ampliada e regularmente atualizada até o ano de 2006 com recursos do Ministério da Educação do Brasil, e considerada por muito tempo uma das mais completas coleções da área na Região da América Latina e Caribe (AL&C). Ainda assim, outras bibliotecas integravam a Rede para complementar a coleção física da BIREME e atender as inúmeras solicitações de cópias de documentos que eram gerenciados através do tradicional serviço de comutação bibliográfica ou empréstimo interbiblioteca, iniciado no ano de 1969 já como um serviço colaborativo e coordenado pela BIREME.
Até meados dos anos 90 muitos usuários do Brasil e de outros países frequentavam a BIREME para consultar a coleção e realizar buscas nos reconhecidos livros do Index Medicus que ocupavam grandes mesas do salão de referência da Biblioteca, fato constatemente relatado nos depoimentos espontâneos dos frequentadores da BIREME daquela época.
A partir de 1988 a BIREME começa a oferecer aos usuários os serviços remotos de acesso a bases de dados como Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) e Literatura Latino-Americana em ciências da saúde (LILACS) e de solicitação de cópias de documentos, ampliando e facilitando o acesso à informação em saúde para os usuários.
Com a Internet nasce a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) em 1987, e a BIREME entra definitivamente no mundo virtual e transfere à Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) o serviço de atendimento ao usuário na Biblioteca, permanecendo a coleção física de revistas sob a gestão da BIREME até março de 2016 quando a UNIFESP assumiu a sua manutenção e operação.
Em 2017, quando a BIREME completa 50 anos, se reafirma seu compromisso de contribuir para o desenvolvimento da saúde das populações da AL&C por meio da cooperação técnica entre e com os países buscando a promoção e a democratização da produção, acesso e uso da informação em saúde.
E, ao longo de toda sua história, a BIREME conduziu esta cooperação técnica enfocada na informação científica e técnica em saúde, mas evoluindo com sucessivos modelos de gestão da informação e do conhecimento, desde o modelo centrado no desenvolvimento de coleções físicas e de funções básicas de biblioteca médica até o modelo da BVS que prioriza o acesso online, cursos a distância e publicação eletrônica, assim como o desenvolvimento de produtos e serviços para responder aos Planos Estratégicos da cooperação técnica da OPAS/OMS e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Fatos e números
Desde o início da operação em Rede do serviço de comutação bibliográfica coordenado pela BIREME, em 1969, foram processadas mais de 6 milhões de solicitações de cópias de documentos, com um índice médio de atendimento pela Rede de Bibliotecas de 85% das solicitações.
Até o ano de 2003 o atendimento das solicitações de cópias de documentos tinha como base as coleções em papel disponíveis nas Bibliotecas Cooperantes do serviço, a maioria do Brasil. A partir de então, com a crescente disponibilidade online de textos completos, com acesso aberto ou controlado, houve uma diminuição já esperada da demanda de cópias de documentos disponíveis nas coleções físicas das bibliotecas, de um modo geral.
Como evidência deste fato, o Portal Regional da BVS reúne mais de 26 milhões de referências bibliográficas de documentos de cerca de 30 bases de dados, das quais 9,2 milhões têm link para o texto completo. E, considerando apenas os documentos publicados nos últimos 5 anos, 85% têm o texto completo disponível online. Na base de dados LILACS, que registra a literatura científica e técnica publicada nos países da AL&C, este índice passa de 90%. Quanto ao volume de acesso a este Portal da BVS, em 2016 se atingiu a média mensal de 1,5 milhões de visitas que gerou quase 5 milhões de páginas visualizadas por mês.
É inegável que a informação está cada vez mais disponível e acessível, tanto representada em metadados nas bases de dados acessíveis na Rede BVS como em texto completo de acesso aberto. Entretanto, o desafio presente para a cooperação técnica da BIREME e toda sua Rede de colaboração, é desenvolver a cultura do uso da informação e da evidência nas decisões em todos os níveis da saúde, e gerar produtos e serviços de informação alinhados à necessidade de tradução do conhecimento também para de responder às prioridades locais de saúde da Região.