A partir de 2010, a comunidade científica protagonizou o que provavelmente é a maior mudança de paradigma na forma como a pesquisa é planejada, realizada, avaliada, comunicada e compartilhada. Não apenas, o papel fundamental da ciência em prol do desenvolvimento e progresso tecnológico associado à saúde e qualidade de vida foi cada vez mais evidenciado. O slogan do Programa de Pesquisa da Comunidade Científica da Comunidade Europeia – Horizon 2020 traduz e sumariza esta concepção – “Por uma ciência melhor para o mundo e não apenas por uma ciência melhor no mundo.”
A ciência aberta pode ser definida como um conceito abrangente que engloba vários movimentos que buscam a abertura de todo o ciclo da pesquisa e foi motivado pela necessidade de compartilhar recursos entre disciplinas e aumentar a transparência em todas as suas etapas.
As práticas editoriais abertas, no entanto, vêm sendo adotadas com cautela pelos editores de periódicos no Brasil e na América Latina. Um dos maiores desafios reside na tarefa de demonstrar à comunidade científica as vantagens de operar com um sistema transparente de geração, avaliação, compartilhamento e uso do conhecimento. Adotar novos paradigmas, no entanto, requer disposição para aceitar mudanças, recursos financeiros e humanos para implementá-los, além de tempo e energia para lidar com novos processos, metodologias e tecnologias. Assim, convencer a comunidade científica da necessidade de adotar as práticas da ciência aberta consiste não apenas em apontar os benefícios éticos, sociais e acadêmicos, mas principalmente mostrar que esta prática vai de fato ajudá-los a ser bem-sucedidos em seu trabalho e fortalecer suas redes de colaboração.
São inúmeras as práticas que integram a ciência aberta, e que estão descritas na Taxonomia da Ciência Aberta[1], no entanto, podemos dizer que há três pilares principais que a apoiam: o acesso aberto, os dados abertos e a avaliação por pares aberta. Destes, a avaliação por pares aberta (open peer review, OPR) é um tema que frequentemente gera dúvidas e questionamentos por parte de editores e pesquisadores.
A Coordenadora de Comunicação Científica da BIREME, Lilian Calò, participou de dois eventos virtuais de comunicação científica no mês de julho onde apresentou o tema OPR. O primeiro, na série de webinars Boas Práticas nos Processos Editoriais de Periódicos Científicos, destinado à rede LILACS na América Latina e Caribe e o I Encontro Brasileiro de Editores de Entomologia.
A apresentação para a Rede LILACS foi realizada no idioma espanhol, uma vez que a maior parte dos participantes, formada por editores científicos, pesquisadores e bibliotecários, pertence aos países da América Latina e Caribe Espanhol. O evento contou com mais de 160 pessoas conectadas, que interagiram efetuando várias perguntas ao final da palestra.
O Encontro de Editores de Entomologia, por sua vez, reuniu mais de 400 participantes e dez palestrantes em um programa de dois dias, entre editores, equipes editoriais e pesquisadores da área. O Comitê Organizador foi formado pelos editores das quatro principais revistas da região: EntomoBrasilis, Entomological Communications, Revista Brasileira e Entomologia e Neotropical Entomology.
As palestras tiveram essencialmente o mesmo conteúdo, que incluiu a comparação da ciência no século XX, antes do movimento do Acesso Aberto, e as transformações ocorridas na forma de avaliar a ciência (como a San Francisco Declaration on Research Assessment, por exemplo), as formas alternativas de avaliar impacto científico (as altmetrias), o surgimento e a popularização dos servidores de preprints, e finalmente, a conscientização da fadiga do modelo vigente de avaliação por pares pré-publicação, saturação dos pareceristas e proposta de modelos inovadores e transparentes de avaliação por pares. Estas propostas, no entanto, não adotam o modelo “one size fits all”, mas buscam adequar mecanismos de avaliação e reconhecimento de pareceristas que satisfaçam distintos periódicos, áreas do conhecimento e modelos de negócio envolvidos. É possível assistir à gravação da palestra da Dra. Calò no evento de Entomologia.
Cabe salientar que a BIREME e a área da Entomologia tiveram até então pouca interação, portanto, aproveitamos a oportunidade para divulgar sua missão, objetivos e produtos e serviços no início da palestra, bem como endereços eletrônicos de seus principais portais e redes, convidando os participantes do evento a visitar e conhecer mais sobre o Centro.
Ao fomentar a adoção de práticas de ciência aberta, aderimos ao movimento internacional da comunicação mais rápida dos resultados de pesquisa, aumento da reprodutibilidade e confiabilidade da ciência e das condutas éticas em pesquisa, em prol de sociedades mais equitativas e sustentáveis.
Além disso, também cumprimos recomendações explícitas dos Comitês de Governança da BIREME, em particular, o Comitê Científico, em “apoiar as práticas de ciência aberta e mostrar posicionamento neste sentido” e “BIREME deve ter um papel de protagonismo no tema”.
[1] Taxonomia da Ciência Aberta elaborada pela Facilitate Open Science Training for European Research (FOSTER). Disponível em https://www.fosteropenscience.eu/foster