A série de seis webinars “Fortalecendo as redes de informação em saúde” que teve como público-alvo as redes da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Bibliotecas do Sistema Único de Saúde (BiblioSUS) teve início em junho deste ano. Os três primeiros webinars tiveram como tema o controle bibliográfico e o papel da Rede como disseminadora e intermediária do conhecimento científico em saúde.
Os três webinars seguintes, por sua vez, trataram de temas de comunicação científica no âmbito das fontes de informação da BVS. O último tema, apresentado no dia 14 de outubro, refere-se à Avaliação da ciência e índices de impacto, e foi apresentado por dois profissionais, Lilian Calò, Coordenadora de Comunicação Científica e Institucional da BIREME/OPAS/OMS OMS e Jaider Ochoa-Gutiérrez, Professor da Escola Interamericana de Biblioteconomia, Universidad de Antioquia, Medellín, Colômbia.
Lilian iniciou contextualizando a necessidade de avaliar a ciência para desenvolver políticas públicas, promover pesquisas relevantes, medir o desempenho dos programas de pós-graduação e contratar e promover pesquisadores de acordo com o mérito de seus trabalhos de pesquisa. O impacto da ciência, entretanto, não pode ser medido em um curto espaço de tempo, mas os indicadores de impacto das publicações científicas, geralmente baseados em citações, são processados em 2 a 3 anos. Existem muitos índices de impacto científico e o mais conhecido deles, o Fator de Impacto, inspirou uma série de outros índices muito semelhantes, mas concorrentes, como o SCImago Journal Rank, CiteScore e outros.
A utilização de indicadores de impacto não é simples e sua interpretação requer conhecimento de seu cálculo e da base de dados utilizada para a contagem das citações. Um fato, ainda, parece ter se tornado um consenso desde os primeiros anos do século 21, que os índices de impacto baseados em citações foram criados para avaliar periódicos, mas não devem ser usados para avaliar pesquisadores em processos de contratação ou de progressão na carreira, como reza a San Francisco Declaration on Research Assessment[1] e o Manifesto de Leiden[2]. Uma medida de excelência dos periódicos científicos é a sua indexação em bases de dados temáticas (por exemplo, LILACS, MEDLINE, PubMed) ou multidisciplinares (Web of Science, SciELO, Scopus, entre outros), pois os critérios de entrada e permanência nestas bases são bastante estritos.
Complementando os índices tradicionais baseados em citações, existem também medidas de uso e download, que servem para medir o quanto os artigos são acessados e lidos, sem ainda serem citados. Calò também mencionou as métricas baseadas em redes sociais, que estão reunidas no índice Altmetrics.
A seguir, Jaider Ochoa Gutierrez apresentou o cenário para a evolução da ciência Latino-Americana e do Caribe por meio de métricas responsáveis. Segundo Ochoa, apesar da oferta múltipla de métricas – geralmente baseada em citações – a avaliação da ciência, dimensionalmente falando, continua problemática. As citações, pondera Ochoa, são tradicionalmente associadas a artigos de periódicos e desconhece outros tipos de documentos, como livros, relatórios de pesquisa, patentes, trabalhos de graduação etc. Além disso, devem ser consideradas as diferenças disciplinares nos modos de produção e na avaliação da construção do conhecimento em diferentes idiomas.
Ao propor métricas responsáveis, Ochoa esclarece que isso implica participar de um exercício de avaliação cooperativa em que a ciência aberta desempenha um papel muito importante. Além disso, devem ser buscados critérios para medir as diferentes formas de desempenho e impacto – científico, social, econômico e político. Não só isso, mas também integrando fontes de dados para uso bibliométrico e medindo o impacto de diferentes tipos de documentos. Ochoa mostra que também devem ser consideradas as formas de acesso aos documentos, as rotas de acesso aberto, os custos de APC[3] e muitas outras variáveis que normalmente não são consideradas nas análises bibliométricas. A importância de se criar e utilizar métricas responsáveis reside no fato de que a pesquisa se evidencia como um bem financiado pelo Estado e, portanto, é necessário conhecer ou estimar seu impacto.
No marco da celebração dos 50 anos do Centro Latino-Americano de Perinatologia, Saúde da Mulher e Reprodutiva (CLAP/SMR) da Organização Pan-Americana da Saúde, o CLAP organizou uma série de cinco webinars. O quarto webinar, organizado em parceria com a BIREME, teve como tema o Infodemia: impacto na geração de conhecimento.
Para discutir este importante tema, o CLAP compôs um painel formado por Thais Forster, Coordenadora de Gestão do Conhecimento do CLAP; Ernesto Spinak, Consultor em projetos de TI, ex-gerente da Rede LILACS da BIREME e atual consultor SciELO; Lilian Calò, Coordenadora de Comunicação Científica da BIREME; e Rodolfo G. Ponce de León, Conselheiro Regional de Saúde Sexual e Reprodutiva da OPAS, lotado no CLAP. O painel foi moderado por Suzanne Serruya, Diretora do CLAP e Diego González, Diretor da BIREME, precedido por um vídeo de boas-vindas do Diretor Adjunto da OPAS/OMS, Jarbas Barbosa da Silva.
Thais Forster apresentou estudos sobre infodemia e as medidas empreendidas pela OPAS e OMS para reduzir seu efeito sobre a pandemia de COVID-19 por meio da divulgação de informações confiáveis em suas bases de dados. Nesse cenário, a aliança entre BIREME e CLAP permitiu a criação de dois produtos para dar visibilidade e acesso aos principais documentos e recursos de informação sobre um tema prioritário de saúde, que é a saúde materna e reprodutiva. A versão atualizada do Biblioteca Virtual em Perinatologia, disponível nos idiomas espanhol, português e inglês, e a Vitrine do Conhecimento Saúde da mulher e do recém-nascido no contexto da COVID-19, também em três idiomas.
Ernesto Spinak contribuiu com sua visão sobre o acesso aberto, trazendo um breve histórico do movimento dos anos 1990 até os dias atuais e sua influência na publicação científica e na criação da BVS, LILACS, SciELO, Redalyc, DOAJ, entre outras iniciativas que permitem o acesso ao texto completo, plugins especializados, interoperabilidade entre sistemas e que permitem a criação de DOI, ORCID, entre outras formas de integração de informação e conhecimento. Spinak destacou os mandatos de acesso aberto que deram origem ao Plano S e concluiu sua apresentação com a Recomendação da UNESCO sobre Acesso Aberto, a ser aprovada pela Assembleia Geral em 2021.
Lilian Calò apresentou as características das informações científicas presentes nos artigos de periódicos e as limitações do processo de revisão por pares em garantir todas as características de integridade do relato de pesquisa, ao contrário do entendimento que tem a sociedade. O público, em geral, interpreta a revisão por pares como um “selo de aprovação ou um mecanismo que tem o poder de proteger a sociedade do caos informativo”. Este equívoco é potencialmente relevante quando rejeitam informações publicadas como preprints, pelo fato de não terem passado pela revisão por pares, ao contrário dos artigos de periódicos.
Discutindo as vantagens, desvantagens e limitações dos preprints no relatório dos resultados da pesquisa COVID-19, Lilian discute como os preprints (que são rápidos, mas não são revisados pelos pares) e artigos de periódicos (mais lentos, mas submetidos a revisão por pares) podem funcionar em paralelo como canais de comunicação para a pesquisa científica, especialmente quando a magnitude e o impacto da pandemia certamente justificam esforços para acelerar a publicação dos resultados da pesquisa, particularmente aqueles que podem contribuir imediatamente para o esforços para reduzir a transmissão, morbidade e mortalidade. Deve-se notar que, considerando sua relevância, a coleção de preprints em COVID-19 de bioRxiv e medRxiv, e as coleções completas de SciELO Preprints e ARCA Fiocruz foram incluídas como fontes de informação da Biblioteca Virtual em Saúde.
Ao final do painel, Rodolfo Ponce de León apresentou seu trabalho, que consiste em uma revisão sistemática frequentemente atualizada, denominada living systematic review, sobre a transmissão sexual do vírus SARS-CoV-2 e os resultados preliminares desta pesquisa.
Tanto o webinar organizado pelo CLAP em comemoração aos seu cinquentenário, como os webinars das redes BVS e BiblioSUS objetivaram divulgar temas de comunicação científica para públicos diferentes daqueles que normalmente participam de workshops e cursos. Quanto mais o público conhece os processos de publicação e disseminação dos resultados das pesquisas, maior será o seu poder de compreensão e avaliação das informações que recebe por meio da mídia, que cada vez mais cita fontes científicas.
[1] La Declaração sobre Avaliação da Pesquisa (Declaration on Research Assessment, DORA) reconhece a necessidade de aprimorar as formas de avaliação dos resultados da pesquisa acadêmica. A declaração foi desenvolvida em 2012 durante a Reunião Anual da Sociedade Americana de Biologia Celular em San Francisco e se tornou uma iniciativa global que abrange todas as disciplinas acadêmicas e todas as partes interessadas, incluindo instituições de pesquisa, agências de fomento, publishers, sociedades científicas e pesquisadores. https://sfdora.org/
[2] Manifesto de Leiden para métricas em pesquisa. http://www.leidenmanifesto.org/
[3] APC significa Article Processing Charge, que em certos periódicos de acesso aberto são cobrados dos autores para manter o modelo de negócios do periódico.