O Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME/OPAS/OMS), em parceria com o Departamento de Saúde Digital e Inovação da Secretaria de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde do Brasil (DESDI/SEIDIGI/MS), iniciaram nova cooperação técnica sob o Termo de Cooperação TC157. O acordo marca um avanço significativo na implementação de tecnologias digitais para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) através da atualização e aprimoramento do Programa Segunda Opinião Formativa (SOF) e outras iniciativas estratégicas. A reunião de lançamento das atividades do projeto foi realizada online no dia 10 de junho, com a participação de representantes das contrapartes envolvidas.
Origem e importância das SOF
As SOF são consultorias clínicas em formato de perguntas e respostas originadas dos programas de telessaúde. Uma pergunta se transforma em SOF apenas se atender a critérios específicos que garantem sua relevância e aplicabilidade. Em desenvolvimento desde 2007 no contexto do Programa Telessaúde Brasil Redes, abordam problemas prioritários da atenção primária à saúde e outros temas relevantes para o SUS. Cada SOF é embasada em evidências de alta qualidade e organizada de acordo com um modelo predefinido. As consultorias passam por revisão de profissionais experientes antes de serem indexadas e publicadas na Biblioteca Virtual em Saúde da Atenção Primária à Saúde (BVS APS). Atualmente, existem 1.636 SOF disponíveis. De acordo com o Diretor da BIREME, João Paulo Souza, “este conjunto tem o potencial de responder a cerca de 70% das dúvidas e necessidades mais recorrentes dos profissionais de saúde, ampliando a capacidade de resolução de casos semelhantes”.
Inovações e melhorias para atualização do Programa SOF
O projeto tem objetivo de atualizar o programa de informação (SOF), integrando tecnologias digitais avançadas para aprimorar a educação continuada e o processo de tomada de decisão em saúde pelos profissionais e usuários do SUS. Com a cooperação técnica entre BIREME e SEIDIGI, a iniciativa busca desenvolver inovações em saúde, explorando recursos de automação no desenvolvimento das SOF e seus derivativos, particularmente a conversão para linguagem leiga e múltiplos formatos, com atualização ágil, multidispositivos, escalável e contextualizada de acordo com área temática e aplicação na linha do cuidado de seu escopo. Além disso, pretende melhorar significativamente o banco de dados das SOF, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Para isso, segundo explicou Juliana Sousa, Supervisora de Soluções Digitais da BIREME, “todas as SOF que hoje constam indexadas e publicadas na BVS APS serão revisadas e adaptadas ao novo formato científico e tecnológico”.
Uma das metas do projeto é implementar mecanismos de busca utilizando modelos de linguagem natural, visando facilitar o acesso e a compreensão das informações contidas nas SOF. “A proposta é que a nova versão do programa SOF possa conter atributos compatíveis com o estado da transformação digital em curso, especialmente a personalização, utilização de dados em tempo real, mobilidade, interconectividade, processos automatizados que facilitem o trabalho colaborativo, uso da inteligência artificial, e investimento em segurança dos dados”, destacou Juliana.
O fortalecimento do uso de evidências científicas para apoiar a tomada de decisão das comunidades e do público leigo é uma das prioridades da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), alinhada à Estratégia BIREME 2023-2025 e ao atual plano de trabalho do Centro. O diretor João Paulo ressaltou, por fim, que a experiência brasileira poderá favorecer a internacionalização do modelo das SOF, permitindo que seja adotado por outros Ministérios da Saúde na Região da América Latina e do Caribe.
Fortalecimento da saúde digital
Para o Ministério da Saúde, os resultados do projeto de cooperação técnica para atualização do Programa SOF irão fortalecer o programa “SUS Digital”, em sua Linha de Ação Estratégica em Telessaúde (Portaria GM/MS Nº 3.691, de 23 de maio de 2024), que substitui e redesenha o programa Telessaúde Brasil Redes, ampliando de três para nove as modalidades de serviços assistenciais disponíveis por telessaúde no SUS.
Na reunião de lançamento do projeto, o coordenador-geral de Gestão da Informação Estratégica em Saúde do Departamento de Monitoramento, Avaliação e Disseminação de Dados e Informações Estratégicas em Saúde do Ministério da Saúde (DEMAS/MS), João André Santos de Oliveira, lembrou de sua participação como responsável técnico pelas teleconsultorias na Fundação Estatal Saúde da Família, na Bahia: “Quando construímos o núcleo de telessaúde da Bahia lá do zero, em 2013, éramos engajados em produzir SOF, e chegamos a contribuir com a produção de algumas SOF. Então é muito bom ver um projeto hoje em andamento com as SOF sendo desenvolvidas, melhoradas e qualificadas”.
Também do DEMAS/MS, o coordenador-geral de Disseminação e Integração de Dados e Informações em Saúde, Thiago Bahia Fontana, concordou: “Sim, é muito gratificante, pois abrimos os caminhos. Encaramos vários desafios, pois não era a cultura. Tínhamos que dialogar com uma diversidade de perspectivas técnicas no território de mais de 3300 equipes de saúde da família. É bom ver que hoje, com a tecnologia existente, podemos aproveitar melhor o conjunto desta produção. As tecnologias novas conseguem potencializar o conteúdo, por exemplo, com inteligência artificial generativa, fazer como se fosse um diálogo, com base em um banco de dados seguro e validado de informação clínica”.
Cronograma e Gestão de Riscos
O cronograma do projeto abrange seis semestres, com desenvolvimentos e entregas planejadas até o final de 2026. Um plano de Gestão de Riscos foi elaborado para garantir o monitoramento eficaz dos progressos e a mitigação de eventuais desafios. Todo o trabalho será acompanhado em detalhes pelo Comitê Diretor especificamente criado para este projeto, além de representantes da BIREME/OPAS/OMS e do Ministério da Saúde.