Tendo como principal propósito subsidiar a estruturação da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) Indígena e o desenvolvimento de seus produtos e serviços de informação, uma equipe da BIREME/OPAS/OMS visitou duas aldeias indígenas e a coordenação central do Distrito Especial de Saúde Indígena (DSEI) de Cuiabá, no estado de Mato Grosso, Brasil, para conhecer a realidade local, as necessidades de acesso e uso de informação e alguns dos principais desafios que possam apoiar as suas práticas e decisões em saúde.
Nesse sentido, a escolha da visita ao DSEI Cuiabá foi sugerida pelas condições adequadas para a realização da atividade de pesquisa de campo, incluindo logística, diversidade de cultura e de etnias característicos. O coordenador do DSEI Cuiabá, Sr. Audimar Rocha Santos, foi o responsável pela organização e indicação dos locais visitados: Aldeia Gomes Carneiro (etnia Eboi – Bororo), Aldeia Formoso (etnia Paresi), e a coordenação central do DSEI Cuiabá.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas. A Gerência de Produção de Fontes de Informação/Serviços Cooperativos de Informação (PFI/SCI) da BIREME/OPAS/OMS representada por Verônica Abdala, Juliana Sousa e Elisabeth Biruel, realizou oito entrevistas individuais e onze em grupos com dois a quatro profissionais, com uma média de duração de quarenta minutos cada. Antes de iniciar as entrevistas, a equipe conversou com alguns indígenas moradores nestas aldeias e com profissionais de saúde, sobre temas gerais da vida cotidiana ou do trabalho nas aldeias.
No segundo dia da visita a atividade foi realizada na sede da Coordenação do DSEI Cuiabá, onde estavam reunidas as equipes de saúde indígena dos Polos Cuiabá, Rondonópolis e Comodoro. Cerca de vinte profissionais de saúde indígena, entre enfermeiros, médicos, dentistas, técnicos e agentes de saúde, além da equipe de coordenação participaram da entrevista.
Segundo Verônica Abdala, a visita às aldeias e a interação com os profissionais de saúde, com a equipe de coordenação do DSEI Cuiabá e com os indígenas possibilitou conhecer o contexto da atuação dos profissionais de Saúde na atenção e promoção da saúde indígena, e os objetivos previamente definidos foram atendidos.
Para Juliana Sousa, a missão permitiu reconhecer as necessidades e os desafios enfrentados no dia-a-dia dos atendimentos nas aldeias, e se aproximar mais da realidade local, além de ter vivenciado e uma experiência incrível para a prática profissional e pessoal.
Segundo Elisabeth, a missão foi uma grata experiência que permitiu olhar para a diversidade da cultura indígena e constatar os desafios enfrentados pelos profissionais da saúde, no qual as entrevistas estreitaram as reais necessidades de alinharmos as estratégias de tradução do conhecimento para atender as expectativas locais.
No geral, a equipe destaca:
– A internet está chegando nas aldeias, mas o acesso ainda é muito limitado; e a telefonia móvel não tem sinal estável;
– Os profissionais de saúde atuam no cuidado da população indígena com recursos limitados e precisam fazer deslocamentos entre as aldeias percorrendo grandes distâncias em estrada de terra. Eles fazem turno de 15 dias de trabalho e 15 dias de descanso. Alguns profissionais são indígenas;
– Alguns profissionais estão fazendo mestrado ou especialização, e comentaram que participam de cursos de atualização. Mas, reportaram que não têm costume de fazer busca de informação na internet, raros conhecem os sites da BVS. Apenas o site da Universidade Aberto do Sistema Único de Saúde (UNASUS) foi citado por mais de cinco dos profissionais, ainda uma estimativa por alto, sem análise de todas as respostas;
– Material didático, áudio visual, relatos de experiências foi recorrente em várias falas dos entrevistados, como instrumentos de capacitação e que sejam de acesso de offline. Folder, cartazes, tutoriais com imagens sobre os problemas recorrentes, foram indicados como instrumentos didáticos e de promoção a saúde para aplicação in loco, com os indígenas; e
– Os principais problemas que afetam a saúde dos indígenas nas aldeias do DSEI Cuiabá, destacados pelos profissionais e pelo coordenador do DSEI, são: Alcoolismo, Suicídio, Doenças respiratórias, Hipertensão, Diabetes, Diarreia e Dermatoses.
De fato, a coleta de dados sobre os interesses e necessidades de informação dos profissionais de saúde indígena servirá como subsídio para a definição e estruturação dos serviços e produtos de informação da BVS Saúde Indígena, considerando tipo de conteúdo e formato. É possível que a BVS Saúde Indígena não terá uma única arquitetura de informação e haverá necessidade de construção de novos conteúdos orientados à prática profissional.
Os costumes e hábitos das comunidades indígenas precisam ser considerados. Por exemplo, é um hábito o uso de fogo dentro das ocas, o que contribui para a prevalência de problemas respiratórios em decorrência da fumaça. Então, será necessário refletir sobre as intervenções que poderão ser viáveis para a prevenção e tratamento das doenças respiratórias neste contexto da cultura dos povos indígenas
Estabelecer cooperação e novas parcerias para a construção de serviços e produtos de informação para saúde indígena será essencial para o desenvolvimento da BVS Saúde Indígena, reconhece Verônica Abdala.